“Retomando” as atividades
Por Thiago Pires
Estive sumido é verdade. Sumido como
alguns rótulos de cachaça que somem e voltam. Agradeço a sua visita nas cercanias deste blog
pois para mim o que importa é contar com sua atenção e um dedinho de “prova” /prosa.
O universo da cachaça tem mudado
muito e acompanhar estas mudanças não é algo fácil. Aqui no blog, tento abordar
algumas destas mudanças de maneira “artesanal”. Digo artesanal pois escrevo por
que gosto de compartilhar com todos minhas aventuranças e estudos no mundo da cachaça e da música e o faço de
maneira voluntária com o apoio e contribuição de ideias, comentários e
postagens de pessoas que compartilham do mesmo gosto. Portanto fique à vontade
para dar sua contribuição.
Ano passado (2013) tivemos o Sr. Tito da Loja “Tonel e Pinga” no município
de Niterói pertinho do Rio, declarando que passaria a fazer as degustações abertas de sua loja de maneira bimestral
e não mais mensal como sempre fora. Segundo ele, um dos principais objetivos
das degustações era apresentar a Cachaça para um público novo, que ainda não
tinha informações ou que tinha informações equivocadas além de acabar com o
estigma em torno da bebida. Para Tito, boa parte desta missão tinha sido alcançada.
Tenho que concordar. Apesar de ver que muito ainda pode ser feito, hoje sem
dúvida a cachaça de alambique têm seu espaço em mercados e bares posto que já tinha seu
espaço no paladar dos brasileiros.
Para mostrar como a cachaça têm
mudado reescrevo aqui os temores de um dos maiores poetas brasileiros que com
sua tímida mineirice “carioca” soube
apresentar seus anseios quanto aos rumos
de nossa bebida. Atenção para a data. Plena industrialização dos engenhos de cana. Hoje vemos que alguns destes medos foram vencidos. Resta-nos
identificar quais os novos desafios de nossa bebida, pois estes têm batido
sutilmente às nossas portas, adegas, bolsos, coleções, degustações e discussões.
“(...) O que ouço dizer é que
quase não se fabrica mais cachaça das boas, das purinhas, que não perdem para o
mais requintado licor de frades, e faziam a glória de cidades mineiras, fluminenses,
pernambucanas. Chegamos à tristeza dos cachaceiros sem cachaça digna do nome, o
que também desmoraliza aqueles. Alguns raros brasileiros a produzem em
quantidade limitada, para o prazer de tê-la em casa e obsequiar a visita de connoiseurs. É uma tradição que se vai,
com a industrialização do álcool, a adulteração dos elementos genuínos, a
crescente perda de sabores que constituíam herança cultural brasileira. Será
que daqui a pouco os amadores da vera branquinha
se limitarão a lê-la em vez de bebê-la? Ou terão de assaltar o museu da cachaça
que alguns colecionadores escondem em casa como prata do Peru e louça da Índia? (...)”
Texto extraído do prefácio de Carlos Drummond de Andrade
para o livro “Dicionário Folclórico da Cachaça” de Mário Souto Maior.
(DRUMMOND, 1976 apud
MAIOR, 2013)
DRUMMOND, Carlos. Cachaça
em Dicionário. Jornal do Brasil 01/11/1976 apud MAIOR, Mário Souto. Dicionário Folclórico da Cachaça. Fundação Joaquim Nabuco. Ed
Massangana. Recife: 2013.