domingo, 17 de novembro de 2013

Estética da Cachaça/ Paraty

A última postagem trouxe alguns apontamentos meus sobre a estética da cachaça. Muito bom perceber o retorno das pessoas e uma delas foi o Gilson Koatz, que conheci através da postagem.
O Gilson pediu para que eu explicasse melhor o meu conceito de cachaça rústica e por que esta estética não seria completamente aplicada à Cachaça Engenho D'ouro de Paraty aqui do estado do Rio de Janeiro. Acreditando que tanto as perguntas dele são pertinentes  e as respostas podem ser esclarecedoras para outros, publico aqui  trechos de minha conversa com o Gilson.
Acredito ser importante compartilhar depoimentos como este que o Gilson faz sobre sua relação com a Engenho D'ouro. Muito rico o que cada vez mais tenho chamado de "relação afetiva" da cachaça.
Ao Gilson ficam os convites para degustar "aquela de banana" , visitar uma reunião da confraria de Cachaça Copo Furado e um abraço forte como Cachaça.

Gilson
Olá, Thiago,

O que me motivou a escrever foi a sua opinião sobre a cachaça Engenho D'Ouro de Paraty. É que você não explicou o por quê ela se afastou do seu conceito, que me parece ser o de rusticidade. Como conheço as cachaças produzidas naquele município, gostaria de ter esse seu esclarecimento.
De resto, parabéns pela matéria.

Thiago Pires

Vamos lá
Durante muito tempo (década de 90 e início da atual) as representantes de Paraty foram Corisco, Coqueiro e Vamos Nessa (Também da família Mello e atualmente extinta). Durante este período a forma de produção não necessariamente era influenciada por valores de mercado que aponto no próprio texto. Lembro também que até os equipamentos de destilação eram diferentes, geralmente feitos em campinas- SP. Este modelo de destilador pode ser conferido ainda na Corisco e na Maré Cheia (morro do jacu). Aquecimento a fogo direto com resfriamento em capelo e serpentina.
Atualmente temos alguns alambiques mais recentes, que são de pessoas que possuem muita experiência com cachaça (alguns experiência de família inclusive) mas que já utilizam outros valores e outros equipamentos. É assim que a Pedra Branca tem um modelo de alambique que já demostra um pouco deste avanço. A Engenho D'ouro também possuía um equipamento de fogo direto e modificou sua estrutura completamente (por exemplo utilizam caldeira). 
A primeira vez que fui na Engenho D'ouro (2003) as dornas de fermentação eram tanques de alvenaria azulejados, bem diferente do que vemos hoje. Acredito que estas melhorias podem ser percebidas na mudança do produto inclusive. Se pensarmos na Maria Isabel então, esta possui uma estética bem diferente, tanto que não possui branca (inox) possui jequitibá, diferente da maioria de Paraty que sempre utilizou o amendoim para armazenamento.
Acredito que a estética da Engenho D'ouro se afasta um pouco das demais e vejo isto inclusive como algo positivo. Na minha avaliação ela possui um refinamento de olfato que as clássicas Coqueiro e Corisco não possuem. Por isso que digo que ela pode se afastar um pouco da estética "rústica".
 Uma sugestão de estudo é fazer uma degustação de cachaças que acredito muito diferentes, exemplo:

Coqueiro x Mulatinha
Corisco x Pedra Branca
Maré Cheia X Maria Isabel
Engenho D'ouro X Maria Isabel
Engenho D'ouro x Corisco
Engenho D'ouro x Coqueiro

Se puder fazer esta experiência com as cachaças brancas (inox) o faça. É muito prazeroso ver as nuances de cada uma. Lembro que Coqueiro e Corisco são descansadas no Amendoim. A Mulatinha acredito que seja inox. A Engenho D'ouro tem inox e Jequitibá,a Maré Cheia é Amendoim também. Atenção às madeiras e ausência delas.
Respondendo á outra pergunta:
Fico à disposição para possíveis esclarecimentos e discordâncias já que é possível de você ter outra análise, o que é bastante normal.
Abraço forte como cachaça!

Gilson
Nov 12 em 11:08 AM
Thiago,

agradeço de antemão a resposta, que me deu grande prazer porque conheço bem a família do Norival e da Marlene, e me considero meio parente de tanto que frequentei aquela casa. 

Nunca fiz essa degustação que você propõe e sempre preferi cachaça branca às que descansam em madeira. O que o tonel acrescenta em cor e sabor me fazem sentir um certo afastamento do conceito de cachaça.

As minhas caninhas preferidas em Paraty sempre foram a Corisco, anterior à Engenho D'Ouro, e conheci os dois alambiques. O primeiro desde 1992, enquanto que a Engenho vi praticamente nascer.

Acho que virou ponto turístico não só pela cachaça, mas pelo engenho de farinha, o único que conheço movido exclusivamente pela queda d' água e pelo movimento das polias, que vi muitas vezes serem trocadas pelo seu Francisco e também pelo Norival. Além dos pastéis da Marlene. Você certamente conhece o filme que fizeram lá no Engenho, quando o "tio" ainda era vivo.


Um abraço e até, quem sabe, um encontro para degustação.

Ah, se quiser provar, acho que sou um dos raros que ainda tem uma pequena garrafa de cachaça de banana que o Norival fez experimentalmente há alguns anos.

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