O engenho Boa Vista fica a seiscentos
metros de distância da casa de Sr Rubens e Dna Cida Chaves. Quando chegamos no
alambique Nando recebia um carregamento de garrafas, conferia nota fiscal,
volume das encomendas, enfim já mostrava ali que atua em todas as posições do
time “Séc XVIII”.
Ultimamente os alambiques têm
tido uma tendência a serem parecidos, ou pelo menos previsíveis, nos projetos.
Conceitos de eficiência, lucratividade e as exigências do MAPA fazem com que
muitos alambiques tenham a mesma marca e modelos de moenda, dornas de
fermentação/aço inox, e equipamentos de destilação da marca líder de mercado.
Ali no engenho Boa Vista, tudo diferente. Lembrou-me muito alguns alambiques de
Paraty há alguns anos atrás, tudo muito simples, funcionando e limpo como têm
que ser. Uma pia com um motor para higienizar garrafas de vinho, testemunhando
o que hoje chamam de sustentabilidade e que Nando já incorporou como prática há
bom tempo. A área de envase separada por uma divisória de vidro colocada para
se adaptar as exigências dos fiscais. Adaptação que notoriamente não estava no
“projeto original ” até porque o original é do Século XVIII. Ali em seu
escritório que é ao mesmo tempo um estoque e almoxarifado Nando começou nosso
atendimento.
Área de Envase |
O Começo
Nando falou de sua relação com a Universidade Federal de Viçosa onde se
formou em Zootecnia e adquiriu boa parte
dos conhecimentos que de alguma maneira são utilizados na relação de respeito
que possui com o meio ambiente na produção de sua cachaça. O produtor está à
frente do alambique desde 1989. Antes disso foi responsável por distribuir a
cachaça nos bares da região e conta como a partir dali começou a observar os
hábitos dos seus consumidores.
“ ...cada bebedor têm uma mania pra beber cachaça, uns rodam, uns
recitam poema, uns dão pro santo antes
de beber, outros oferecem pro santo depois de beber , uns contam causos, mas
cada um têm uma mania...” Conta como esta fase foi importante para seu
conhecimento e formação no mercado da cachaça. Passou a identificar tipos de
consumidores e a partir daí traçou melhor o perfil de identidade que iria
trabalhar na Séc. XVIII.
Antes de mostrar o alambique um assunto que chamou
nossa atenção foi o da adequação à legislação. Segundo Nando, sua família
sempre foi muito preocupada em preservar o patrimônio histórico do engenho mas
a partir do momento que o MAPA (Ministério da Agricultura) começou a
estabelecer uma relação de maior fiscalização aos alambiques, eles enquanto produtores não tinham como ao
mesmo tempo atender às exigências e preservar sua história. Segundo ele isto
cobrou muita perseverança e paciência pois talvez até hoje nossa legislação não
abra precedentes para estes casos específicos já que estamos falando de uma unidade
produtora de quase trezentos anos.
Projeto do(a) Séc. XVIII |
Uma destas adaptações foi a
desativação da cisterna subterrânea onde armazenavam sua cachaça que se
mantinha branca. O reservatório era escavado na pedra e suas paredes eram
calafetadas com parafina. Tiveram que desativar a cisterna e substituir o
armazenamento pelo aço inox. O armazenamento em cisternas já fora bastante
comum assim como o hábito de enterrar barris para que embaixo da terra o
líquido fosse melhor acondicionado. Segredos que os laboratórios foram se
apropriando de alguma maneira já que hoje em dia as adegas têm sido feitas em
locais úmidos e escuros tendo (às vezes subterrâneos) inclusive com adegas
dotadas de medição de umidade e temperatura do ar, o que vez ou outra faz com
que o produtor molhe seus barris e jogue água pelo chão da adega em épocas mais
quentes ou lugares mais secos.
No próximo capítulo abordaremos os "segredos que aos poucos os laboratórios desvendam" do Engenho Boa Vista.
Êta 2º gole bom!
ResponderExcluirAgradeço sua visita no blog. Ainda teremos mais postagens sobre a Séc. XVIII. Esteja certo que será melhor ainda.
ResponderExcluirAbraço forte como cachaça!