sábado, 28 de abril de 2018

Dicas para Degustação


Dicas para a Degustação



O mundo da cachaça têm mudado de forma tão acelerada que muitas vezes esquecemos de abordar temáticas simples, como por exemplo dicas e observações sobre degustações.

Minhas primeiras degustações foram feitas na loja Tonel e Pinga, agora “Rei da Cachaça” do querido Tito Moraes. Além de distribuidor e conhecedor do mundo das pingas, Tito se tornou produtor da excelente Cachaça Tiziu, de Salinas.

Com as degustações da Confraria de Cachaça do Copo Furado aprendi um pouco mais de sistematização do procedimento com algumas dicas que devo colocar por aqui. Posteriormente vieram os cursos de análise sensorial com o Dr Luigi Odello e o de utilização da roda sensorial, com a Dra Aline Bortolletto.

Lembro que degustação é uma procedimento diferente da análise sensorial e vou explicar porque: a análise sensorial é um procedimento técnico que geralmente segue etapas bem definidas, tendendo a ser feito às cegas (sem identificação alguma) buscando a maior neutralidade possível. É um procedimento de avaliação e em alguns casos comparação.  

Por ser um procedimento técnico costuma ser feito com taças adequadas (copo ISO ou o próprio pra cachaça) com uma pré-produção mínima (numeração das taças ou garrafas, formulário de avaliação...) e com um condutor da degustação. 

Na análise sensorial as cachaças passam a ser chamadas simplesmente de “amostras”.

Ousaria dizer que a degustação é uma atividade social. Tem gente que vai jogar baralho, tem gente que vai à praia com os amigos, outros vão à degustação. Mesmo sendo menos criteriosa que uma análise sensorial técnica, a degustação tem elementos comuns à análise sensorial como os “tira –gostos” (prefiro os caldinhos de feijão da degustação do que as torradas da análise sensorial), a presença da água e a comparação. Vamos lá:

1 - Evite perfumes ativos para a degustação





Geralmente passamos perfume nos pulsos. Esta é a parte que será levada às narinas quando você for experimentar a cachaça. Um perfume muito ativo pode além de atrapalhar os outros, lhe atrapalhar na percepção de elementos básicos de olfato, e vai influenciar sua degustação.

2- O Preparo Físico


Se você for para uma pescaria ou uma corrida pela manhã, não vai ficar acordado até tarde na véspera achando que no dia seguinte o rendimento é igual, não é mesmo? Uma noite mal dormida ou mesmo uma misturada de bebidas da noite anterior vai influenciar certamente sua degustação. Outro elemento que se modifica com o preparo físico é o olfato. Ir para uma degustação com uma das narinas entupidas ou espirrando muito é algo ruim e que com o álcool pode piorar, já que este mexe com o sistema imunológico.

3- Beba Água


A hidratação faz parte do preparo físico portanto, entre uma dose e outra, sempre um gole de água.  No calor carioca costumo beber água com gás com um pedaço de limão ou laranja e geralmente dá super certo. Você pode degustar acompanhado de outras bebidas mas lembro que água não é cerveja nem caipirinha e que estas últimas desidratam, mas se você conhece o ritmo das bebidas e se garante, vai lá, certo de que o seu ritmo pode não ser o ritmo do coletivo e de que a degustação é um evento social.

4- Beba com os Olhos


Amostras de "brancas"   


É fundamental ler os rótulos e contra-rótulos! Algumas garrafas possuem livretinhos de apresentação com o local de procedência, graduação alcoólica, se é estandardizada, com maiores dicas do tipo de destilado, da região e histórico do produtor...enfim, é fundamental.
Uma breve observação da limpidez na garrafa já adianta muito em ver se a mesma foi bem filtrada, se está com turbidez, ou se possui partículas que somem com a movimentação.

Copos de cafezinho de plástico (aquele branquinho frisado de 50ml) geralmente não permitem maiores observações, principalmente de viscosidade. O shot (60ml) é o mais comum , mas se puder utilize um copo de parede mais alta. Até o copo de “geléia” vai oferecer mais percepção do que um copo escuro ou opaco.

5- Organize-se


Uma degustação é um ritual. Se você começar com cachaças muito amadeiradas, talvez não perceba o efeito de transformação proporcionado pela madeira do tonel na bebida. Portanto, comece com as brancas, preferencialmente de inox e vá gradualmente passando pelas mais amadeiradas.

Exemplo:
Inox, Amendoim, Jequitibá, Carvalho, Imburana, blends.

Esta ordem  é só uma sugestão pois amadeiramento é outra seara que varia de acordo com volume do recipiente, tempo, qualidade do recipiente, tipo de madeira....


Referências de amadeiramento


6- Barriga cheia até cachaça amarga


Comer faz parte da degustação mas se você estiver ligeiramente com fome, como mais para o fim da manhã, você tem como estimular mais os sentidos e com isso perceber um pouco mais de informações. Depois da " abrideira"alimenta-se! Estar alimentado faz parte do preparo físico.

7- A degustação é social então socialize


O brinde é um rito de celebração ao encontro, quem perde o brinde ou está atrasado, ou está tomando remédio ou não está na mesma sintonia do grupo.
Diferente de uma análise sensorial em uma degustação a conversa é o melhor tira-gosto. Converse!
Nestas conversas aprendemos muito também sobre as novidades, sugestões de colegas e claro, sobre conhecimentos gerais (arte, futebol, a história dos lugares e das pessoas). 
As confrarias têm muito a ensinar neste sentido. 

8- As Coisas Acabam




É triste lembrar, mas as coisas acabam. Duas a três horas de degustação em um ambiente agradável é um tempo ideal. 

Neste período procure fazer suas avaliações: qual foi a cachaça que mais impressionou? Qual se destacou na degustação? Qual decepcionou? Qual quer comprar? Qual recomenda? Qual marcou? Qual o melhor custo-benefício? Qual levaria para experimentar em uma caipirinha?

Lembrar da trajetória das cachaças degustadas também é algo que ajuda a trabalhar a memória. Alguns mesmo na degustação menos técnica gostam de fazer registros escritos, isto é bem interessante.

9- Os "Sacis" Aparecem


 Esteja atento às chaves, bolsas, cartões de visita recebidos e cartões de banco, aparelhos de celular e até mesmo cachaças que porventura tiver comprado ou ganho. Ficamos mais displicentes depois de umas e outras e é nesta hora que as coisas somem ou como diz a sabedoria popular: “os sacis aparecem”.

10- “...como se ter ido fosse necessário para voltar...”





 Sem mais delongas, voltar pra casa refletindo, conversando com o motorista ou simplesmente observando a paisagem (quantas vezes fiz isso na barca voltando da Tonel e Pinga) é um bom motivo pra deixar o carro em casa. Além de uma questão de lei, se você está mais "aberto" vai querer aproveitar a volta. E quem não gosta de voltar bem pra casa?

Um abraço forte como cachaça e boas degustações!


8 comentários:

  1. Texto excelente. Muito bem estruturado e um passo a passo perfeito. Você é um estudioso muoto dedicado. Parabéns! Confreira Maria João Gaio

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    1. Estimada Confreira.
      Seja sempre bem vinda a estas terras. Fique a vontade com outras matérias.
      Unidos Beberemos sozinhos Também!

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  2. Parabéns Tiago pela linda postagem.
    Ainda existe um trabalho forte a ser feito em função da ignorância do povo em relação a cachaça e aos verdadeiros cachaceiros.
    Trabalho esse que admiro e respeito muito como arte, aliás cachaça é arte, história do nosso Brasil, muito mais que isso, cachaça é agregação de valores de uma sociedade que lutou pela liberdade. Se todos soubessem que em cada gole nos sentimos isso, certamente tal arte seria mais valorizada. Um bjao a todos e viva a cachaça.

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    1. Muito obrigado pelas palavras e pela visita.
      Sinta-se se a vontade. Sempre uma postagem do universo da cachaça e de música brasileira.

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  3. Parabéns pela relevante postagem. Abç.

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  4. Veleu confrade. Obrigado por mais esta vusita.
    Unidos Beberemos, sozinhos Também!

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  5. A melhor dica com certeza foi a do Saci rssss

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    1. Rapaz' como dizem no interior: "...pode até não ser verdade' mas também não é mentira". Apareça sempre camará.

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