domingo, 29 de janeiro de 2012

Descobrindo Zabelê

Já tinha ouvido falar de Cachaça artesanal na Bahia. A primeira vez, quando estive no oeste do estado (em Correntina, já faz bastante tempo!) em uma feira comprei uma garrafa de Cachaça da Chapada. A segunda, quando estive no sul, próximo à costa do Dendê, onde apesar de encontrar a Engenho Bahia e Itagibá, sempre me diziam que Cachaça "destilada" (como se referem a cachaça de alambique), só para as bandas da Chapada Diamantina.
Uma vez na Chapada (Vale do Capão, distrito de Palmeiras) percebi que realmente por ali havia uma "história" com Cachaça, mas infelizmente, a possibilidade de conhecer a Abaíra, produzida pela Coopama, se tornava algo cada vez mais distante, literalmente, pois teria que enfrentar pelo menos uns trezentos km do Capão até Abaíra. Uma pena, pois o potencial etílico da viagem era muito grande.
No único dia que fiz um passeio com guia, fomos visitar um gruta no município de Ibiraquara e um pouco antes vi uma placa pintada a mão apontando para fora da rodovia escrito "ZABELÊ". Minha cabeça obcecada imaginou logo que se tratava do alambique da Zabelê, mas depois viria saber que aquela era uma placa de indicação da comunidade e não de um alambique específico. Mesmo assim teria que aguardar até o dia seguinte para conhecer a comunidade.
Negociei com Rafael (nosso guia) uma ida à comunidade com sua caminhonete e no dia seguinte estava eu inaugurando o "Roteiro dos Alambiques" da Chapada Diamantina. Pura brincadeira minha, mas que gostaria que fosse verdade, pois a possibilidade de explorar turisticamente este lado da Chapada é grande, mas muito distante da atual realidade.
No caminho falei um pouco da história da Cachaça para Rafael e sua esposa, Isis, ambos atentos às relações que fazia da cachaça com a história que aprendemos na escola, e atentos à Maria sua filhinha de nove meses, já nos acompanhando ao “Roteiro dos Alambiques”.
O primeiro alambique que visitamos foi o do Seu Benedito. Distante cinco km da rodovia. As instalações muito artesanais e uma realidade totalmente distante daquela das "novas tecnologias", "certificação", "fiscalização" que tanto ouvimos falar. Muito simpático, seu Benedito contou sua história de seis anos na produção de cachaça, como adquiriu os equipamentos e como têm feito para vender sua produção. Ele não se dedica exclusivamente à produção de cachaça, trabalha na construção civil e aproveitou que teve um tempinho sobrando, para não deixar o resto de cana plantada estragar e alambicar neste janeiro de 2012. Interessante citar que seu Benedito conta que aprendeu a produzir cachaça ao adquirir os equipamentos em Abaíra e ao visitar alambiques no interior de São Paulo. Perguntamos à ele sobre outros alambiques na região ao que ele nos diz: "Aí para dentro tem mais de dez alambiques". Fiquei surpreso e ainda mais curioso. Depois de apresentar o processo de produção para Rafael e Isis, pergunto qual alambique seria dos mais velhos da região, ao que ele responde de pronto: "O do Seu Daniel! Fica bem próximo, ótima pessoa, já foi até vereador aqui, ajuda muito a comunidade".
Quando chegamos, o Seu Benedito estava no término de uma destilação, já tirando a “água fraca”. Mesmo assim pudemos sentir o doce cheiro proveniente do alambique de cobre. Combinamos de voltar dentro de uma hora e meia para presenciarmos a próxima alambicada, na tentativa de pegar a “Cabeça” da próxima ( sem dúvida a mais nociva e “cheirosa” parte durante a destilação e o “coração”. Assim combinado, partimos para Seu Daniel.


Fermentação do alambique de Seu Benedito


Eu e o simpático Seu Benedito

Nenhum comentário:

Postar um comentário