segunda-feira, 13 de maio de 2013

De Barris e Tambores (Maranhão)


 De Barris e Tambores

  A relação destes dois objetos sempre foi muito próxima. Certamente alguns dos primeiros tambores vindos da Europa, África ou feitos aqui mesmo, eram barris adaptados. De fato nada melhor que levar um som com o que sobrou da bebida...
  A música necessariamente fez parte da rotina das primeiras embarcações. São frequentes as representações de paisagistas do período da colônia retratando os tambores feitos de barris. Os nativos se utilizavam principalmente de troncos para os seus tambores.


 Tentando revezar uma postagem sobre música e outra sobre cachaça, vamos continuar falando do Maranhão. Lembram-se da postagem  “Maranhão: longa história com Cachaça”? Pois bem, esta postagem será sobre nossos mais antigos “marcadores de ritmo”, com toda reverência, os tambores, aqui representados pelo Tambor de Crioula.


   Quando se fala de música maranhense a primeira lembrança que temos é o Bumba- meu-Boi (não confundir com o Boi-Bumbá do Pará). Os grupos folclóricos que produzem a festa do Boi (durante o período dos festejos juninos) possuem peculiaridades como diferentes acompanhamentos rítmicos (sotaques) que variam de região para região (Boi da Baixada, Boi da Madre Deus, Boi Barrica, Boi de Morros...), instrumental que vai desde uma orquestra de sopros (fanfarra) aos grupos que tradicionalmente se utilizam do banjo como instrumento harmonizador e acompanhador.
  Como não vamos falar do Boi, prefiro não me alongar. Lembro que boa parte das células rítmicas presentes no folguedo do Boi dialogam com Tambor de Crioula, mais uma manifestação de matriz africana que chegando no Brasil sofreu a influência e influenciou outros gêneros, europeus  e nativos.



 É importante registrar que o Maranhão recebeu em suas terras negros de diversas regiões da África: Guiné, Costa da Mina/Forte de El Mina (costa leste do castelo de São Jorge da Mina atuais repúblicas de Gana, Benin, Togo e Nigéria), mais conhecidos como negros  mina-jejês e mina-Nagôs.  Esta diversidade permitiu que algumas manifestações  culturais fossem praticamente únicas do Maranhão, apesar de semelhanças com manifestações folclóricas de outros estados .
  Cabe também não confundir o Tambor de Mina com o Tambor de Crioula. Apesar de serem genuinamente maranhenses, o primeiro é uma manifestação essencialmente religiosa e frequentemente associada aos terreiros, com a ocorrência de transes. A segunda também possui o apelo religioso (muitas rodas de tambor de crioula são feitas em louvor a São Benedito  ou outro santo como pagamento de promessa), mas não se caracteriza apenas religiosamente pois aborda outras temáticas , podendo em uma roda de tambor de crioula haver duelos entre cantores versadores (a exemplo do que ocorre no jongo), temas satíricos,  dentre outros. Muito da confusão entre estes dois exemplos vem de semelhanças como a predominância de mulheres na organização, na dança( só as mulheres dançam em ambos exemplos)  e na música ( são os homens que geralmente executam os tambores).
  É interessante apontar que estas são manifestações que assim como no Candombe Mineiro( não confundir com o Candombe Uruguaio), no Candomblé, no Jongo, os protagonistas são os tambores, que em vários exemplos de origem africana são responsáveis por “ligar” os guias espirituais às cerimônias através de seu som e toques.


  Estivemos no espaço cultural de Mestre Amaral em janeiro deste ano de 2013, sob recomendação do “corintiano- A Maquina” vendedor de Cachaças e batidas mais conhecido do mercado da Praia Grande e talvez da ilha. Ao que parece o espaço de Mestre Amaral ainda não é tão conhecido, mas pela receptividade deste e de todos, certamente está reservado a ser um importante ponto de cultura de São Luís ( fica bem pertinho do palácio dos leões no centro histórico).
  Fica aqui meu agradecimento a : Jaqueline Luz pelas imagens, Hindelino Pires e Glória Fontenelle pela ótima companhia.  A Mestre Amaral que é desses homens de fala mansa, sorriso iluminado, bom de prosa e que sabe receber o visitante. Confesso que ainda não tinha visto uma devoção tão grande a São Benedito.
    São Benedito, padroeiro da cachaça. Ao que parece há mais proximidade entre tambores e barris do que sugere nossa vã filosofia.

7 comentários:

  1. Muito bom! Parabens e obrigado, to indo pra lá em junho fazer uma pesquisa para um trabalho sobre a cultura local, depois quero umas dicas de onde visitar! continuo aqui de olho nos proximos! Abraá

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    1. Espero escrever sobre outros tambores. No dia que estava no mestre amaral, foi o dia que você e Lolê me ligaram. Vibe total. Mestre Amaral também conhece o pessoal do "açude", uma vibe realmente muito forte.

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    2. Se puder passa o São João lá.(24 de jun)

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  2. Parabéns! Bela apresentação.
    Unidos beberemos,
    sozinhos também.
    Sempre!
    Forte abraço

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  3. Muito Obrigado. Esteja sempre á vontade para prestigiar as materias

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  4. Um brinde ao Mestre Amaral, aos tambores de Crioula, ao seu artigo que me tirou um pouco da total ignorância e a nossa maravilhosa cultura ! Cultura de muita personalidade.
    Parabéns, Thiago.
    Abraço.

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  5. Muito obrigado fiel apreciador. Abraço forte como Cachaça.

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