quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

"Retomando" as atividades

“Retomando” as atividades
 Por Thiago Pires

Estive sumido é verdade. Sumido como alguns rótulos de cachaça que somem e voltam.  Agradeço a sua visita nas cercanias deste blog pois para mim o que importa é contar com sua atenção e um dedinho de “prova” /prosa.
O universo da cachaça tem mudado muito e acompanhar estas mudanças não é algo fácil. Aqui no blog, tento abordar algumas destas mudanças de maneira “artesanal”. Digo artesanal pois escrevo por que gosto de compartilhar com todos minhas aventuranças e estudos  no mundo da cachaça e da música e o faço de maneira voluntária com o apoio e contribuição de ideias, comentários e postagens de pessoas que compartilham do mesmo gosto. Portanto fique à vontade para dar sua contribuição.
Ano passado (2013) tivemos o  Sr. Tito da Loja “Tonel e Pinga” no município de Niterói pertinho do Rio, declarando que passaria a fazer as  degustações abertas de sua loja de maneira bimestral e não mais mensal como sempre fora. Segundo ele, um dos principais objetivos das degustações era apresentar a Cachaça para um público novo, que ainda não tinha informações ou que tinha informações equivocadas além de acabar com o estigma em torno da bebida. Para Tito, boa parte desta missão tinha sido alcançada. Tenho que concordar. Apesar de ver que muito ainda pode ser feito, hoje sem dúvida a cachaça de alambique têm seu espaço  em mercados e bares posto que já tinha seu espaço no paladar dos brasileiros.
Para mostrar como a cachaça têm mudado reescrevo aqui os temores de um dos maiores poetas brasileiros que com sua tímida  mineirice “carioca” soube apresentar seus anseios  quanto aos rumos de nossa bebida. Atenção para a data. Plena industrialização dos engenhos de cana. Hoje vemos que alguns destes medos foram vencidos. Resta-nos identificar quais os novos desafios de nossa bebida, pois estes têm batido sutilmente às nossas portas, adegas, bolsos, coleções, degustações e discussões.

“(...) O que ouço dizer é que quase não se fabrica mais cachaça das boas, das purinhas, que não perdem para o mais requintado licor de frades, e faziam a glória  de cidades mineiras, fluminenses, pernambucanas. Chegamos à tristeza dos cachaceiros sem cachaça digna do nome, o que também desmoraliza aqueles. Alguns raros brasileiros a produzem em quantidade limitada, para o prazer de tê-la em casa e obsequiar a visita de connoiseurs. É uma tradição que se vai, com a industrialização do álcool, a adulteração dos elementos genuínos, a crescente perda de sabores que constituíam herança cultural brasileira. Será que daqui a pouco os amadores da vera branquinha se limitarão a lê-la em vez de bebê-la? Ou terão de assaltar o museu da cachaça que alguns colecionadores escondem em casa como prata do Peru  e louça da Índia? (...)”  

Texto extraído do prefácio de Carlos Drummond de Andrade para o livro “Dicionário Folclórico da Cachaça” de Mário Souto Maior. 

(DRUMMOND, 1976 apud MAIOR, 2013)

DRUMMOND, Carlos.  Cachaça em Dicionário. Jornal do Brasil 01/11/1976  apud  MAIOR, Mário Souto. Dicionário Folclórico da Cachaça. Fundação Joaquim Nabuco. Ed Massangana. Recife: 2013.