terça-feira, 11 de junho de 2019

Um "Motocana" na Havana


Já no domingo à noite muita gente saindo de Salinas. O festival e seu último dia fechando com um show do Falamansa (ah mais eu tô rindo à toa...) à noite. Do ponto de vista musical, muito legal o show e a estrutura.  

Chamo atenção que muita gente de Salinas do lado de fora do festival não consome necessariamente a cachaça da terra. As barraquinhas têm drinks e outras batidas coloridas feitas à base de Vodka. É isso mesmo, santo de casa ou cachaça de casa, não faz milagre nem em Salinas e mesmo não sendo uma característica só de Salinas, esse fenômeno é muito sério e precisa ser refletido por todos nós que queremos ver a Cachaça em um lugar de maior valorização.
      
 Em relação ao festival é pertinente salientar como este movimenta a cidade. É um festival simples, comparado com outros que possuímos em outras localidades porém é um festival bem organizado. Na edição de 2018 não observei etapas educativas ou algo relacionado ao mundo dos drinks. Para este ano de 2019 foi com alegria que recebi de Gilmar da Terra de Ouro a notícia dos cursos que serão oferecidos no Instituto Federal de Salinas nos dias que antecedem o festival. Confira a Programação:
Instituto Federal de Salinas promovendo cursos da área da Cachaça

Curtido o show do Falamansa ando alguns metros em direção ao Panorama Hotel que com a saída dos hóspedes agora tinha vaga.  Durmo cedo pois dia seguinte vou a fazenda Havana.




Moto-cana
Como disse, praticamente todo mundo que tinha ido para o festival na segunda feira já tinha ido embora. Patrícia e Leandro idem.

Tentara arrumar uma carona com Sérgio da Obra de Arte mas este tinha ido para a roça. Outro camarada que tinha conhecido em uma feira em BH, o Marcelo, aluno do Instituto Federal de Salinas mesmo sempre solícito, desta vez não pôde me auxiliar no translado à fazenda Havana.
Entrando na Fazenda Havana


E assim não pude fazer nada diferente do que procurar um moto táxi para que me levasse à fazenda Havana. No final das contas valeu a pena  apesar do vento frio da rodovia e da falta de espaço afinal também queria realizar o sonho da Havana própria e trazer minha garrafa né. 

Uma preciosidade desta só poderia ser harmonizada com uma música à altura. Então, fiquem com esta descontraída apresentação no trechinho "O Fortuna", da ópera Carmina Burana de Carl Orff.  


quarta-feira, 5 de junho de 2019

O Brinco de Ouro da Preciosa Sabinosa Peladinha.

Estante com as marcas de Sr. Sabino

Deixem explicar esse título antes. Estas são marcas do Sr Sabino. Chegamos em suas terras no fim de tarde deste segundo dia de Salinas. Já ouvira falar de Sr Sabino e lá conheci este figuraça!
O elemento cultural Cachaça em Salinas é muito forte. Observei cachaças em vitrines de lojas de móveis e eletrodomésticos. Quem não produz cachaça têm um parente que produz, ou vende, representa, alambica...enfim, a cidade tem muita relação com a produção de cachaça e sua economia gira em torno disso.

Quando temos a oportunidade de conhecer uma pessoa como o Sr Sabino nos deparamos com uma testemunha e ao mesmo tempo um ator das transformações pelas quais a cachaça têm passado. 
Conversamos sobre tudo: legislação, multas, distribuição e frete, rótulos, empréstimos de fermento...

Seu alambique fica mais perto do tal Valley Hill hotel, bem no trevo de entrada da cidade. Passando a porteira um curral e muita cana. Ressalto que estes alambiques foram facilmente visitados porque estávamos com o Sérgio da Cachaça Obra de Arte como guia porque do contrário, demoraríamos  um pouco mais de tempo para achar exatamente a localidade dos engenhos (nem todos têm placas indicativas).
Sr. Sabino no Festival sendo servido por Tito Moraes


Da branca prata (pura ou inox) a qual me parece que Sr Sabino não valoriza tanto  (serviu-me porque insisti que queria provar a branca) à mais amadeirada, Sr Sabino nos apresenta todo seu portfólio encerrando com um Carvalho que está “curando” para ser uma reserva especial. Provamos da Sabinosa, Preciosa, Brinco de Prata, Brinco de Ouro, Peladinha.

Suas cachaças possuem uma apresentação simples mas chamam atenção a variedade de madeiras com que trabalha.   

Brinco de Prata( jequitibá)  e Brinco de Ouro (Bálsamo)
Ando um pouco pelas suas instalações. Ainda não estava alambicando. Observo que possui uma produção volumosa com muita cachaça armazenada que dali despacha para o Brasil inteiro. Sr Sabino foi muito acolhedor e disse um “volte aí” como se Salinas ficasse “pertim, pertim”.



Devidamente abastecidos, rumamos para o descanso mas confesso que trago uma cena na memória: o fim de tarde em seu Sabino. A terra seca, o cheiro e o mugido do gado e um poente avermelhado apresentam um sertão que até quer lembrar o nordestino mas é diferente: o do norte de Minas. Filho de nordestinos como sou talvez precisasse considerar mais esse portal do nordeste que é o norte de Minas. Seco, amadeirado como o Bálsamo, intenso como o Pequi, forte como a cachaça.



terça-feira, 4 de junho de 2019

Domingo em Salinas


Acordo com um cansaço e uma fome arrebatadores. O corpo e principalmente os sinos da face avisando que no ritmo do dia anterior, hoje não! Já que a carcaça mandou, melhor obedecer. Um café reforçado muita água com um pouco de prudência não faz mal a ninguém. Um contato com Patrícia e Leandro da Acqua Mineira e tudo certo para uma carona ao primeiro alambique do dia: o da cachaça Terra de Ouro. 


A Terra de Ouro
Um dos Alambiqueiros da Terra de Ouro


A Terra de Ouro se diferencia das demais marcas de Salinas principalmente por ser fruto do trabalho de produtores de cana unidos em cooperativa que acharam na produção de cachaça uma maneira de unir seu trabalho agregando valor.

A cooperativa existe desde março de 2002 e seu responsável o Sr Gilmar Freitas em pouco tempo demonstra ser bom de papo, de produção de cachaça e de conta (impostos, legislação, preço de garrafa, frete...). Pouca vezes vi alguém saber as "ST"(substituição tributárias) de cada estado, impressionante! 
Sr Gilmar Freitas, presidente da Cooperativa Terra de Ouro


Por ser um domingo o alambique estava fechado e mesmo do lado de fora do engenho o cheiro do fermento vivo. Para se ter um ideia da produção da Terra de Ouro:

A produção média é de 180 mil litros
Exportam com o nome de Terra de Ouro para a Alemanha e Itália
A cooperativa possui 108 cooperados
Cada alambicada produz em torno de 150 litros
São uma cooperativa de produtores de cana
A cooperativa que produz a cachaça Terra de Ouro

Sr Gilmar nos conduz até o alambique. Dois equipamentos de cobre com coluna e pratos com capelo. Não utilizam deflegmador e segundo seu alambiqueiro  isto dá um paladar muito rico e diferenciado em relação às demais de Salinas. A disposição dos alambiques chama atenção pois toda a volta da água de refrigeração ocorre com canos suspensos.  Como apontei anteriormente, a Terra de Ouro foi a primeira cachaça de Salinas com registro a ser vendida prata, pura, cristal, armazenada em tonéis de aço inox.

A fermentação estava com as leveduras sendo reforçadas mas mesmo assim era possível observar sua ativa movimentação. Conversando com o alambiqueiro ele me mostra dois fermentos, um já elaborado com milho, sendo reforçado com o aumento gradual do brix  e outro feito somente de caldo de cana, que segundo ele,  demoraria um pouco mais que o de milho, mas de sabor diferenciado.
Um dos alambiques da Terra de Ouro


Enquanto conversávamos chega um caminhão com cooperativados trazendo cana, e ali mesmo pudemos experimentar o caldo de cana da Terra de Ouro. Início de safra e uma cana com 22 graus brix. Um delícia sobretudo servido com um harmonioso limão galego.
A estrutura da produção é simples, muito limpa e organizada e após dizermos que estivemos na produção da cachaça Salinas Sr Gilmar reforça:  “...aqui vocês não ver aquela estrutura não...”. De fato o tamanho não é o mesmo mas o conhecimento de cachaça e o produto fica à altura da conterrânea.

 É interessante que no local da produção da Terra de Ouro ficou muito perceptível a diferença de temperatura em relação à Salinas. Novo Horizonte fica mais no alto e mesmo de dia é fácil sentir frio por conta de uma brisa que sempre sopra pelo menos quando lá estive (julho).


Da produção rumamos de carro para o envase que ocorre em outra localidade. Mais uma vez um imenso galpão de estrutura limpa, organizada e bem planejada. A cooperativa não produz só a Terra de Ouro. Portanto parte de sua produção já é encomendada por produtores locais que são clientes de longa data e já possuem as próprias dornas dentro da adega da Terra de Ouro.

Conversando sobre vendas, impostos, política digo ao Sr Gilmar que conheci a Terra de Ouro em uma antiga feira do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário, período Lula/ Dilma) que ocorria na marina da Glória, no Rio de Janeiro. Sr Gilmar diz que certamente foi ele que me serviu a primeira Terra de Ouro pois ele que participou de todas as edições e relembra com entusiasmo o sucesso nessas feiras em uma época que nem cartão de débito a maioria usava. Ele arremata, : “ ...na última feira servi cinco mil doses de Terra de Ouro...”!
Junto à um dos Tonéis da Terra de Ouro
Uma cachaça sensacional da qual, se já era fã, virei seguidor e mais admirador ainda principalmente pela organização e por mostrar que mesmo os pequenos podem estar na cena da cachaça através da força da coletividade.

Parada para um almoço em um chalé num dos pontos mais altos da cidade. Visual legal, muitos apreciadores de diferentes locais do Brasil, Chopp de qualidade e ...um chef de cozinha apresentando um leitão à pururuca. Por incrível que pareça eu ainda sem beber neste dia. Foi assim que de lá rumamos para a Sabinosa de Sr Sabino.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

“...Sábado na Balada...”/ O Festival


Stand da Havana/ Anísio Santiago e Canarinha

No festival de 2018 marcas de cachaça de outros lugares dividiram o espaço harmoniosamente com os salinenses. Weber Haus (RS), Matriarca (BA) e Segredo do professor (MG) pegaram carona nas Salinenses oferecendo diversidade à feira. Encontro com clássicos como a Taiô de Taiobeiras, Cachoeira, Salineira e dividindo o mesmo stand, Havana/Anísio Santiago e Canarinha. O mais impressionante é que no festival de Salinas estavam fartamente oferecidas. O festival possui uma entrada de R$10,00 que vale muito a pena já que o nível das cachaças é altíssimo.
Presença da Weber Haus. Sim, eles foram de Ivoti- RS a Salinas-MG

No geral prevalece o bálsamo mas algumas novidades sempre precisam ser lembradas.
A tradicional Taiô de Taiobeiras, na Micro Região de Salinas

Tito Moraes e sua Tiziu em uma tacada só oferecem uma prata (virgem), um bálsamo (única), um jequitibá e uma jaqueira com o cuidado de uma graduação alcoólica maior.


A Salivana, armazenada em jequitibá  que pelos 54°GL de graduação fica como uma das poucas a sustentar o nome de aguardente diga-se de passagem muito interessante.


A Encantos da Marquesa traz uma diversidade de rótulos e combinações de madeiras que não à toa está no mesmo stand da Dornas Havana apresentando uma imensa gama  de novidades não só para o mundo da cachaça mas para a culinária também com seus dadinhos aromáticos.

A propósito, este é um canal que também fala de música. Sendo assim, aproveito a oportunidade de chamar atenção ao clipe da  Encantos da Marquesa de uma maneira mais técnica do ponto de vista musical: uma combinação entre áudio e vídeo que se você também achar “harmoniosa” vai ter que considerar  a sexta corda do violão afinada em ré, o timbre e o “tempero” seja na música, seja na cachaça.

Havanas pra lá Canarinhas pra cá, hora de descansar porque a expedição recomeça cedo no dia seguinte!(eu estava destruído..kkk)