terça-feira, 4 de junho de 2019

Domingo em Salinas


Acordo com um cansaço e uma fome arrebatadores. O corpo e principalmente os sinos da face avisando que no ritmo do dia anterior, hoje não! Já que a carcaça mandou, melhor obedecer. Um café reforçado muita água com um pouco de prudência não faz mal a ninguém. Um contato com Patrícia e Leandro da Acqua Mineira e tudo certo para uma carona ao primeiro alambique do dia: o da cachaça Terra de Ouro. 


A Terra de Ouro
Um dos Alambiqueiros da Terra de Ouro


A Terra de Ouro se diferencia das demais marcas de Salinas principalmente por ser fruto do trabalho de produtores de cana unidos em cooperativa que acharam na produção de cachaça uma maneira de unir seu trabalho agregando valor.

A cooperativa existe desde março de 2002 e seu responsável o Sr Gilmar Freitas em pouco tempo demonstra ser bom de papo, de produção de cachaça e de conta (impostos, legislação, preço de garrafa, frete...). Pouca vezes vi alguém saber as "ST"(substituição tributárias) de cada estado, impressionante! 
Sr Gilmar Freitas, presidente da Cooperativa Terra de Ouro


Por ser um domingo o alambique estava fechado e mesmo do lado de fora do engenho o cheiro do fermento vivo. Para se ter um ideia da produção da Terra de Ouro:

A produção média é de 180 mil litros
Exportam com o nome de Terra de Ouro para a Alemanha e Itália
A cooperativa possui 108 cooperados
Cada alambicada produz em torno de 150 litros
São uma cooperativa de produtores de cana
A cooperativa que produz a cachaça Terra de Ouro

Sr Gilmar nos conduz até o alambique. Dois equipamentos de cobre com coluna e pratos com capelo. Não utilizam deflegmador e segundo seu alambiqueiro  isto dá um paladar muito rico e diferenciado em relação às demais de Salinas. A disposição dos alambiques chama atenção pois toda a volta da água de refrigeração ocorre com canos suspensos.  Como apontei anteriormente, a Terra de Ouro foi a primeira cachaça de Salinas com registro a ser vendida prata, pura, cristal, armazenada em tonéis de aço inox.

A fermentação estava com as leveduras sendo reforçadas mas mesmo assim era possível observar sua ativa movimentação. Conversando com o alambiqueiro ele me mostra dois fermentos, um já elaborado com milho, sendo reforçado com o aumento gradual do brix  e outro feito somente de caldo de cana, que segundo ele,  demoraria um pouco mais que o de milho, mas de sabor diferenciado.
Um dos alambiques da Terra de Ouro


Enquanto conversávamos chega um caminhão com cooperativados trazendo cana, e ali mesmo pudemos experimentar o caldo de cana da Terra de Ouro. Início de safra e uma cana com 22 graus brix. Um delícia sobretudo servido com um harmonioso limão galego.
A estrutura da produção é simples, muito limpa e organizada e após dizermos que estivemos na produção da cachaça Salinas Sr Gilmar reforça:  “...aqui vocês não ver aquela estrutura não...”. De fato o tamanho não é o mesmo mas o conhecimento de cachaça e o produto fica à altura da conterrânea.

 É interessante que no local da produção da Terra de Ouro ficou muito perceptível a diferença de temperatura em relação à Salinas. Novo Horizonte fica mais no alto e mesmo de dia é fácil sentir frio por conta de uma brisa que sempre sopra pelo menos quando lá estive (julho).


Da produção rumamos de carro para o envase que ocorre em outra localidade. Mais uma vez um imenso galpão de estrutura limpa, organizada e bem planejada. A cooperativa não produz só a Terra de Ouro. Portanto parte de sua produção já é encomendada por produtores locais que são clientes de longa data e já possuem as próprias dornas dentro da adega da Terra de Ouro.

Conversando sobre vendas, impostos, política digo ao Sr Gilmar que conheci a Terra de Ouro em uma antiga feira do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário, período Lula/ Dilma) que ocorria na marina da Glória, no Rio de Janeiro. Sr Gilmar diz que certamente foi ele que me serviu a primeira Terra de Ouro pois ele que participou de todas as edições e relembra com entusiasmo o sucesso nessas feiras em uma época que nem cartão de débito a maioria usava. Ele arremata, : “ ...na última feira servi cinco mil doses de Terra de Ouro...”!
Junto à um dos Tonéis da Terra de Ouro
Uma cachaça sensacional da qual, se já era fã, virei seguidor e mais admirador ainda principalmente pela organização e por mostrar que mesmo os pequenos podem estar na cena da cachaça através da força da coletividade.

Parada para um almoço em um chalé num dos pontos mais altos da cidade. Visual legal, muitos apreciadores de diferentes locais do Brasil, Chopp de qualidade e ...um chef de cozinha apresentando um leitão à pururuca. Por incrível que pareça eu ainda sem beber neste dia. Foi assim que de lá rumamos para a Sabinosa de Sr Sabino.

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