sexta-feira, 19 de maio de 2017

Silva Jardim e as Instalações da Tapinuã dos Reis

Silva Jardim na rota turística Fluminense
Este blog se propõe a promover não só a música e a cachaça de alambique. Na verdade estamos falando de cultura brasileira. Junto com a música e a cachaça acabamos promovendo as diferentes regiões de nosso imenso país.

Um tema que deve que ser mais considerado na agenda dos administradores públicos, secretários de turismo, eventos, cultura, é que  a cachaça e a música promovem o turismo.

O turismo de alambique já é praticado em diversos locais do Brasil como nas rotas mineiras (Estrada Real, Serra da Moeda, Salinas), nas Gaúchas e mesmo em locais como a chapada Diamantina na Bahia. Talvez a cidade de Paraty seja um ótimo exemplo de como o poder público pode ser um aliado em promover o turismo de alambique.

Na maioria dos casos este turismo não é sistematizado junto com o poder público, o que que poderia alavancar ainda mais o desenvolvimento humano das regiões (mais postos de trabalho, mais infra- estrutura, mais promoção...)


 Antes de falar dos equipamentos da Tapinuã entraremos na seara de apresentar a cidade de Silva Jardim.

Pedalando da BR101


No ano de 2015 tivemos a oportunidade de viajar de bicicleta de Rio Bonito a Aldeia Velha, distrito mais conhecido por seu turismo rural, suas cachoeiras, e pela cena de Forró, Reggae e Rock que tem se desenvolvido na região.  A cachaça " da viagem" foi a Tapinuã que consegui encontrar no bar do "Linguiça" que além de dono de bar é  informalmente um pouco "Centro de informações turísticas de Aldeia Velha" para quem chega no vilarejo.

E naquele bate-papo descomprometido ficamos sabendo muita coisa de Silva Jardim.  Ficamos sabendo da trilha que liga Aldeia Velha ao encontro dos Rios em São Pedro da Serra (Friburgo). Ficamos sabendo da produção de Palmito Jussara e principalmente o Pupunha, sua imensa reserva de Mata Atlântica e o trabalho de conservação da espécie Mico Leão Dourado outrora quase extinto.

É desta forma que peço a você leitor que dê um confere no vídeo institucional da prefeitura de Silva Jardim (2014) de promoção do turismo na região. Tenho certeza que  você degustará esta matéria com outros olhos.








Instalações de Equipamentos


As instalações da Tapinuã dos Reis As instalações da Tapinuâ) confirmam sua vocação de empresa familiar. Paulo da Tapinuã, engenheiro aposentado adquiriu a propriedade com um amigo e ali montou uma pousada de turismo rural. Como bom mineiro (Itajubá) cultiva os valores regionais de doces feitos com frutas da propriedade, um queijo regional e obviamente cachaça.


Projeto aproveitando o relevo do terreno 


O engenho é todo construído em gravidade. Possui um destilador de fogo direto (Sta Efigênia de coluna e deflegmador) adaptado para um fogareiro a gás. Panela de 200 lts de cobre com pré aquecedor.  

Paulo nos contou que depois que o fiscal do MAPA orientou que fechasse o espaço da destilação optou em utilizar fogo do botijão à gás que passou a compensar já que com este obteve maior controle do aquecimento da panela. Adaptações de cunho prático para preservar o corpo já que o trabalho com a lenha é bem cansativo (principalmente para a coluna).



Sua safra geralmente dura três meses , chegando a dar três alambicadas por dia e sua capacidade de produção é em torno de 10.000 litros por ano de cachaça padronizada para 40°gl. Embora pequeno o projeto é bem funcional.

A justificativa para seu rendimento também  está no fato de padronizar o brix de fermentação em 18° e controla-lo em no máximo 8° dentro da dorna. Sendo assim produz pouco mais de vinte litros por alambicada.


Matéria – Prima e Moagem 




Paulo possui canas que conseguiu com o SNA (Sociedade Nacional de Agricultura) via sindicato rural em Cordeiro na serra fluminense. Ainda não é auto - suficiente tendo que complementar sua produção com cana de produtores de Silva jardim .

Armazenamento


Cachaça Ouro premiada em Concurso antes de ter Registro no MAPA


Sua adega é simples com capacidade de armazenamento de 14.000lts no aço inox  e nas madeiras possui a presença exclusiva do carvalho (15 barris de 200tls).

Padronização do teor do Alcoólico


 Caro leitor você não imagina a dificuldade que foi chegar a um consenso em relação a este item. Segundo Paulo é impossível que uma safra sua seja absolutamente igual a outra. Exemplifica que a cachaça muda constantemente porque ele mesmo têm procurado melhorar sua produção ano a ano. Portanto ele o termo identidade ao invés de padrão. 

Uma característica chama atenção: O sítio Tapinuã possui grande oferta de água (tem uma pequena queda d’agua dentro da propriedade) e é desta que utiliza para "padronizar" seu destilado tendo a branca 43°GL e a amadeirada (envelhecida) 41°GL.


Degustação 


Branca 

Possui uma característica marcante no paladar: Na minha análise um ligeiro mineral. O doce da matéria prima está presente tanto no nariz como no paladar com uma lembrança floral que perde para um acético. Em algumas degustações mais técnicas que fiz pude perceber a referência de melado de cana de açúcar . É bem coerente do olfativo para o paladar. Visualmente não apresenta persistência de borbulhas. Acidez controlada no sensorial com baixíssima acidez pela análise química.

Ouro (carvalho)

A referência do tabaco, do defumado são bem intensas. O baunilha sugere até mesmo um chocolate ou calda de doce com canela. Bala toffe de café. Aos que gostam de amadeiramentos intensos eis uma boa opção. Acidez controlada e bem agradável. Foi a que mais bebi em nossa visita. Apesar de preferir as brancas, a umidade da chuva, o tempo mais frio foram convidativos para o carvalho.

Fermentação


Utiliza de fermento Fleischamn para iniciar o processo e posteriormente continua apenas com as leveduras predominantes do meio.

Próximo Capítulo


Acredito que já conseguiram pegar o espírito da produção da Tapinuã. Na próxima postagem falaremos bastante de fermentação para posteriormente apresentarmos nossa experiência.

Como começamos este capítulo falando de turismo de alambique seguem algumas imagens da pousada da Fazenda Tapinuã que como diz o Paulo tem a cachaça à disposição dos hóspedes. 

Quer motivo melhor para conhecer? 



terça-feira, 2 de maio de 2017

A Tapinuã dos Reis

A Tapinuã dos Reis


Tapinuã dos Reis em suas duas versões


Nas próximas postagens falaremos da Cachaça Tapinuã dos Reis produzida na localidade de  Bananeiras-Silva Jardim- RJ e sua interessante trajetória que embora recente têm muito a acrescentar para o universo da cachaça.

No mês de dezembro de 2016 estivemos no alambique da Tapinuã dos Reis que é capiteaneado pelo Sr Paulo Vieira e aproveitamos a visita para fazer um experimento com fermentação. Por isso falaremos um bocado desta etapa crucial para a identidade da cachaça.
 A fermentação é assunto recorrente entre produtores mas nem sempre considerado pelos apreciadores/degustadores geralmente mais focados na ponta do processo (armazenamento e envelhecimento/ amadeiramento).

Outro ponto que tangenciaremos será a realidade da informalidade assunto que ainda é polêmico e precisa ser considerado não apenas nos termos da legislação mas sobre a perspectiva dos produtores, afinal eles são os protagonistas do fazer cachaça.

 Esta postagem tem a colaboração do amigo e confrade (membro da Confraria de Cachaça Copo Furado do Rio de Janeiro) Paulo Machado que esteve no alambique da Tapinuã dos Reis comigo e se lançou a pesquisar, registrar com fotos e "arregaçar as mangas" viabilizando a postagem e nosso experimento com fermentação.

Ressalto que na reunião aberta da Confraria de Cachaça Copo Furado do mês de maio o Sr Paulo Vieira, rebatizado “Paulo da Tapinuã” passará pela cerimônia de Cananização já que fora eleito nas últimas indicações para membros da Copo Furado.
Além de amigo, Paulo da Tapinuã passa a ser um irmão na cachaça, um Confrade.
Algo a coroar ainda mais seu trabalho e amor pela nossa tão estimada bebida.   

Com licença aos demais leitores, Paulo da Tapinuã:
 “Unidos Beberemos Sozinhos Também”

Uma breve retrospectiva


No ano de 2008 tive a oportunidade de promover um workshop patrocinado pela Cachaça "Bendita" de Dona Euzébia- Cataguazes- MG, da qual fui representante no Rio de Janeiro, chamado “Bate Papo, Bota Pinga” onde além de orientar a degustação da Bendita, apresentava as principais diferenças da cachaça de alambique para a cachaça de coluna e as etapas de produção de cada tipo.

Dentre os presentes estava o Sr Paulo Vieira que vez ou outra apresentava uma pergunta de cunho prático surpreendendo a mim e aos demais presentes.  Na época Paulo tinha acabado de montar seu alambique e estava começando as primeiras destilações.

Passado algum tempo (2009) o Sr Paulo Vieira começou a frequentar as reuniões da Confraria de Cachaça Copo Furado, grupo do qual sou membro. Lá estava o Sr Paulo buscando novidades, informações e sobre tudo aprimorando seus conhecimentos.

Nessa ocasião que pude experimentar pela primeira vez sua cachaça, a Tapinuã dos Reis. Lembro-me que na ocasião foram levantados inúmeros elementos que poderiam ser melhorados na sua cachaça.

Paulo Vieira acolheu as críticas, buscou assessoria técnica especializada e foi aos poucos transformando aquele produto com muito carinho.

Até aí nada muito diferente de várias histórias de cachaça se não fosse a inquietude de seu produtor.

O Pulo do Gato ou um pulo muito alto para um Gato?

Em 2010 Paulo da Tapinuã resolve inscrever um exemplar de sua safra no IV Concurso de Avaliação da Qualidade da Cachaça promovido pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo, a USP, detentora de um dos melhores laboratórios de análise química para cachaça do país.

Obtém a medalha de prata no concurso (segundo lugar). 

O que é interessante é que a Cachaça Tapinuã dos Reis até então não tinha selo do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Isto mesmo, a cachaça tirou o segundo lugar em um concurso de âmbito nacional, estava quimicamente e sensorialmente pronta, mas legalmente não poderia ser comercializada.

Este resultado apontava para realidade das cachaças sem registro no MAPA e a possibilidade destas apresentarem qualidade química e sensorial.

O Tiro que Saiu pela Culatra 


A partir deste momento Paulo da Tapinuã tinha um dilema: Alguns mil litros de cachaça de qualidade que não podiam ser vendidos. Como escutei dele certa vez: "Cachaça é um líquido que não tem liquidez". Imagina!

 De 2010 a 2016  Paulo da Tapinuã procurou adequar seu alambique às exigências do MAPA e pode-se dizer que foram seis anos de muita persistência (pra não dizer teimosia), paciência e dedicação que foram coroados no final de 2016 com a aprovação de suas instalações pelo MAPA. 

Foi no clima de "menino que passa de ano" que fomos ao seu alambique em um chuvoso 14 de dezembro de 2016.
Se quer conhecer ainda mais a cachaça e esta história, não perca a próxima postagem!