quinta-feira, 30 de maio de 2019

“...Tu que andas pelo mundo, Sabiá, Tu que tanto já voou...”


Do museu voamos com um Tiziu para conhecer um Sabiá. Tito Moraes foi uma espécie de tutor em terras salinenses. Quebrou alguns galhos como oferecer carona, passar dicas sobre a cidade, arrumar credencial para o festival e até mesmo me recomendar a Cléber e Geraldo Santiago viabilizando minha visita ao alambique da Havana. Foi o receptivo que você respeita!
Eu e Tito Moraes da Cachaça Tiziu
Rumamos para o engenho do Sr Xavier, seu parceiro na produção da cachaça Tiziu. Ainda no carro Tito me contou sobre sua relação com Salinas e seus produtores de cachaça.  A primeira viagem ainda em 2002. Depois com o advento dos festivais prestigiando o evento anualmente e saindo sempre de carro de Niterói- RJ.

Numa prosa chacoalhada pela estrada de terra voltou no tempo desde que se atentou à cachaça em um trabalho de campo em Rubelita no norte mineiro, com a cachaça de um pequeníssimo produtor.  Conversamos sobre o quanto sua área de formação (engenharia florestal) foi importante para seu trabalho com cachaça na Tonel e Pinga, hoje “Rei da Cachaça”, a maior distribuidora de cachaças de alambique do estado do Rio de janeiro.

A Sabiá de Sr. Xavier

Agora à frente da Tiziu, contou-nos como certa feita chegou no alambique do Xavier da Sabíá e o mesmo estava alambicando. Resultado, paixão a primeira vista. Daí pra frente virou sócio de Xavier. Se a parceira está dando certo? Em um ano conseguiram a medalha de ouro na  Expocachaça na categoria prata, com a bela, “Tiziu Virgem”.

 Segundo Tito além da qualidade da cachaça feita por Xavier outro elemento determinante para a parceria com o homem da Sabiá é a humildade e simplicidade do salinense. Chegando a fazenda pude perceber estes atributos de Xavier. Pessoa simples, bem humorado e muito acolhedor com os visitantes.

Eu, Xavier, Tito e Patrícia
Xavier herdou a marca Sabiá da família reerguendo o nome da Sabiá e assim como vários produtores de Salinas transformou o vínculo afetivo com a cachaça em sua principal ocupação.


Sua casa é o primeiro passo para quem quer chegar a seu alambique. Pães de queijo na mesa e mais gente chegando curiosa para conhecer a cachaça medalha de ouro da expocachaça (categoria prata).
Fachada da casa de Sr. Xavier

Salinas apresentou ao Brasil o Bálsamo. Muitas vezes vejo comentários depreciativos em relação à madeira e mesmo algumas marcas da região mas devo salientar que todo o sucesso da cachaça de Salinas se deve ao fato de terem criado uma identidade a partir de algo que é incontestavelmente deles, o  Bálsamo do norte de Minas. Algumas cachaças como a Lua Cheia, com menos intensidade da madeira, outras como a Canarinha que não deixa dúvida da madeira, mas uma coisa é fato: os ícones de Salinas passam pelo Bálsamo.


Sempre tive curiosidade de experimentar uma cachaça branca de Salinas. A Terra de ouro, cachaça da qual falaremos mais tarde, foi a primeira em investir em algo diferente, lançando no mercado um produto armazenado em tanques de inox, e sensacional.  Certamente o grande mérito de Tito com a Tiziu foi apostar em sua identidade. Uma cachaça branca sem amadeiramento algum com 47°GL e muita autenticidade. Para quem acha que a inovação para aí, Tito apresenta suas versões em Jaqueira , Jequitibá e o tradicional...Bálsamo! Quem vê a fermentação de Xavier consegue entender melhor os atributos desta cachaça.

Os outros visitantes são Patrícia e Leandro da garrafaria Acqua Mineira, e o Sérgio da cachaça “Obra de Arte” de Salinas. Entre perguntas e respostas de Xavier, Tito e Dil (o alambiqueiro) temos o privilégio de ver sair o coração da Tiziu espalhando um cheiro doce no ar e salivando a boca dos presentes.

Pergunto ao alambiqueiro se tivera feito algum tipo de curso de produção de cachaça. Ele responde que sim e que já alambicava de família sempre procurando  seguir as determinações de Xavier. Esse mais um dos atributos: Inovação com tradição!

Uma prosa no quintal da casa de Xavier, tira-gostos feitos por sua esposa, Dona “miúda” regados a Sabiá e Tiziu. Foi assim que a Sabiá do Sr Xavier se transformou no primeiro alambique que visitei em Salinas. O primeiro agente não esquece mesmo!
 “...e tendo o coração vazio
Vivo assim a dar psiu, (ou tiziu?)
Sabiá vem cá também!

Eu e Sr Xavier da cachaça Sabiá. Foto gentilmente cedida por Patrícia


Tito Moraes que tantas vezes acompanhou minhas manhãs de sábado em suas tradicionais degustações em Niterói me acompanhava assim num sábado em Salinas apresentando um Sabiá, que de tão afetuoso, me fez lembrar meu pai que sempre criara o bichinho. Pela autenticidade de Sr Xavier e sua cachaça, poucos animais nativos poderiam tão bem representar-lhe e poucas cachaças poderiam tão bem representar a simples riqueza do pássaro. Salve o Tiziu, salve o Sabiá!



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